Biossegurança / Dopplerfluxometria no primeiro trimestre

Embora a ultrassonografia possa ser realizada em qualquer momento, desde o primeiro dia, o saco gestacional só pode ser identificado após 4 semanas e o embrião entre 5 e 6 semanas dependendo de fatores como biofísico materno, qualidade do aparelho de ultrassom, qualificação técnica do médico examinador, gás em alças intestinais, etc., o Doppler pulsado não deve ser utilizado antes de 10 semanas. A Ultrassonografia e Doppler, embora feitos no mesmo aparelho, possuem características fisicamente diferentes (O Doppler está acoplado ao aparelho de Ultrassom). A ultrassonografia consiste por ecos de curta duração gerados a partir de pulsos breves, emitidos pelo equipamento através do transdutor (ou sonda), princípio semelhante ao de um microfone ou uma caixa de som. A ultrassonografia apresenta três modos de apresentação: o modo A (amplitude) que fornece resultado como gráficos de amplitude (utilizado em oftalmologia e indústria do aço), o modo B (brilho) que fornece as imagens em escala de cinza que são utilizadas para os exames de ultrassonografia propriamente dita, e o modo M (movimento), que permite o estudo da movimentação das interfaces refletoras (paredes do coração, por exemplo), sendo o modo de avaliação utilizada na ecocardiografia. O Doppler consiste na emissão de pequenos pulsos ultrassônicos emitidos em curtos espaços de tempo repetidamente. (Cerri, G.G., Ultra-sonografia Abdominal, Revinter. Páginas 4-24).

 

O artigo da revista Radiologia Brasileira (Radiol Bras 2002;35(6):365-370) relata:

"No caso particular da prática obstétrica, quando se considera a aplicação clínica e de cunho científico, é imperioso fazer o ajuste dos benefícios e riscos potenciais. Tal é a atitude adotada pelo Safety Committee of the European Federation of Societies for Ultrasound in Medicine andBiology (EFSUMB) e pelo American Institute of Ultrasound in Medicine (AIUM), que promovem atualizações freqüentes (Clinical Safety Statement for Diagnostic Ultrasound) sobre o tema da segurança da ultra-sonografia. 

O mais proeminente efeito adverso ocorre após exposição do embrião em desenvolvimento a períodos de hipertermia. As elevações térmicas mais importantes ocorrem no osso e na interface osso-tecido mole, devido à maior absorção energética nesse nível. 

Estudos em diferentes espécies animais mostraram malformações cerebrais após exposição a temperaturas superiores a 4°C da temperatura basal por cinco minutos. Essas elevações, observadas em preparados experimentais, é muito improvável que ocorram com o emprego do ultra-som diagnóstico. Tarantal et al. (1993) conduziram experimento em primatas grávidas utilizando aparelhos comerciais de Doppler pulsátil. As medidas de temperatura intra-craniana e na interface osso-músculo detectaram elevação mxima de 0,6ºC.

O European Committee for Ultrasound Radiation Safety indicava que no decorrer do período de organogênese são desaconselháveis exames de rotina do embrião em desenvolvimento, particularmente usando-se o Doppler pulsátil, pela possibilidade de haver efeitos biológicos induzidos pela emissão do Doppler nos tecidos.

Durante os últimos anos houve um aumento considerável nas publicações médicas a respeito do Doppler pulsátil e do Doppler colorido quando utilizados para investigar a circulação do embrião e do feto em estágios precoces. No que concerne ao primeiro trimestre da gravidez, a World Federation of Ultrasound in Medicine and Biology recomendava que o uso do modo B não é contra-indicado em termos de energia térmica, incluindo a aplicação transvaginal . Foram apresentadas orientações para o uso da dopplerfluxometria, quando a interface gás-tecido ou agentes de contraste não estão presentes e for inexistente o risco de elevação importante na temperatura. Assim, respeitadas as condições anteriormente mencionadas, o uso dos equipamentos Doppler com finalidade diagnóstica não é interditado . Quanto às preocupações referidas, Campbell e Platt propõem apenas a publicação de trabalhos que versem sobre o uso do Doppler após as dez semanas e com autorização expressa do Comitê de Ética local. É importante mencionar o fato histológico de que o embrião durante o primeiro trimestre pode ser considerado “sem osso” e de que o período de organogênese precede a ossificação. Portanto, os efeitos térmicos são mais provavelmente mínimos ou ausentes. No entanto, ainda permanece em litígio a questão relativa à quantidade de energia acústica suficiente para provocar dano permanente ou transitório às estruturas embrionrias."

 

dopplerfluxometria.pdf (236,7 kB)

 

A Sociedade Internacional de Ultrassonografia em Obstetrícia e Ginecologia (ISUOG) afirma que:

"A ultrassonografia de primeiro trimestre é segura?

O tempo de exposição do feto deve ser minimizado, usando os menores tempos de varredura e as menores potências possíveis que permitam obter as informações para o diagnóstico usando o princípio ALARA (As Low As Reasonably Achievable). (BOA PRÁTICA CLÍNICA)

Muitas organizações profissionais internacionais, incluindo a ISUOG, chegaram a um consenso de que o uso do modo B e modo M na ultrassonografia pré-natal, devido à sua potencia acústica limitada, parece ser segura para todas as fases da gravidez. A ultrassonografia Doppler é, no entanto, associada com uma maior produção de energia e, por conseguinte, maior efeito biológico potencial, especialmente quando aplicadas a uma pequena região de interesse. Os exames Doppler devem ser usados no primeiro trimestre apenas se clinicamente indicado. Mais detalhes estão disponíveis no manual de segurança da ISUOG"

Orientações práticas da ISUOG US de primeiro trimestre.pdf (624332)